INSÔÔNIA.com
Marie Laveau: A Rainha do Vodu mais respeitada dos EUA no século XIX
maio
17
2021
Curiosidades / Por: Camila Naxara ás 11:19

Hoje vos trago a história da feiticeira de Nova Orleans, Marie Laveau, uma das mulheres mais respeitadas dos Estados Unidos (séc 19) que, inclusive chegou a ser retratada na série de terror American Horror Story.

Para quem não sabe, o Vodu é uma religião super popular em Nova Orleans, Louisiana. A cidade é famosa pelo Jazz, por suas raízes francesas, pela forte influência negra na região e sua festa carnavalesca, o Mardi Gras. É neste lugar cheio de misticismos que viveu a famosa feiticeira, Marie Laveau.

Marie Laveau

A origem de Marie Laveau é cercada de mistérios. Tudo indica que ela nasceu no bairro Francês, em Nova Orleans, em setembro de 1801. Sua mãe era uma escrava liberta e seu pai o prefeito da cidade, Charles Laveau.

Infelizmente, sabemos pouco a respeito de sua infância, mas na sua adolescência, Marie aprendeu os ofícios do vodu com sua mãe e sua avó, sacerdotisas do vodu.

Ademais, Marie cresceu num meio social de certa forma privilegiado, justamente por ser filha do prefeito, e possuía mais conhecimentos, comparado a maior parte das pessoas naquela época.

Marie era uma mulher muito inteligente, desde jovem já “tocava” negócios de bebidas e tirava uma grana. As pessoas a descreviam como alta e bonita, sempre usando lenços coloridos e brincos brilhantes. Ela andava pelas ruas como se fosse sua dona. Além disso, Marie sempre estava envolvida em projetos sociais.

No ano de 1819, Marie Laveau, casou-se com Jacques Paris, de origem haitiana. Entretanto, após um ano de casamento, Jacques simplesmente desapareceu sem deixar rastros. Marie o esperou por cerca de 12 meses, até intitular-se viúva.

Posteriormente, Marie abriu um salão de beleza com a herança que recebeu do marido “falecido”. Aliás, este é um fato importante, o primeiro passo para sua carreira como feiticeira da cidade.

O inicio

O trabalho de Marie Laveau, como cabeleireira, muitas vezes, vinha acompanhado de atividades religiosas.

Ela também atendia seus clientes em suas respectivas casas, e lá realizava trabalhos como curandeira, fazia leitura de cartas, fitoterapia e rituais, como feitiços para ajudar as pessoas a enriquecerem e trabalhos para provocar abortos em mulheres ricas que haviam engravidado, porém, não do marido. (rs)

Seu salão era muito frequentado pela high society branca de Nova Orleans, consequentemente, Marie ficava sabendo de absolutamente tudo que rolava com as famílias mais importantes do lugar, logo, era muito fácil pra ela manter um certo controle sobre a vida das pessoas.

Inegavelmente, o salão de beleza funcionava quase como uma fachada. Na realidade, a maioria daquelas pessoas não iam em busca de algo estético, mas sim, em busca de “favores” de Marie Laveau.

A questão é que com a desculpa de ir cuidar da estética, elas encomendavam feitiços sem o risco de ficarem mal vistas pela sociedade. O vodu era praticado nos fundos do salão e vez ou outra, na casa das pessoas que preferiam o delivery.

Meu caro leitor, você pode imaginar que apenas mulheres compravam “favores” da Sra. Laveu, mas estão completamente enganados.

Muitos homens usavam de seus feitiços para adquirir riqueza ou encomendar abortos também. E dava certo! Ela fez tantos rituais de aborto, que uma certa entidade a puniu dizendo que os filhos dela nunca sobreviveriam.

Nasce a Rainha do Vodu II

Mulher independente, Marie casou-se pela segunda vez, com Christophe Dominick de Glapion e com ele teve 15 filhos, sendo que apenas um bebê chegou a idade adulta, Marie Euchariste Eloise Laveau.

Vale ressaltar, que foi um casamento interracial, ato que não era aceito em nenhum estado americano. Porém, Marie era muito admirada e poderosa e meteu o f0d#-se.

Marie Laveau

Já casada, ela não se submetia ao marido, pois ela era uma alta sacerdotisa e quando um homem se casa com uma sacerdotisa vudu, ele automaticamente passa a ser seu subordinado. ( ͡° ͜ʖ ͡°)

Na praça Congo, nos arredores da cidade, ela realizava grandes rituais vodu. Por consequência, muitos escravos libertos participavam das sessões, inclusive por manter uma boa relação com a alta sociedade, Marie conseguia convencê-los a deixar que escravos ainda cativos também participassem.

Aos domingos, galos e bodes eram sacrificados, para que Marie pudesse banhar com sangue os participantes que sentiam-se aflitos e precisavam de uma ajuda espiritual ou purificação. Os frequentadores permaneciam em transe por várias horas durante o ritual.

Dizem que Marie tinha uma cobra chamada Zombi (em homenagem a um deus africano) que a acompanhava nas sessões e através da cobra, ela recebia informações das entidades. E incrível que pareça, a cobra só dava sinal de vida durante os rituais, porque em outros momentos ela permanecia inerte, dormindo.

Marie Laveau

Homens e mulheres brancas católicas também participavam dessa grande sessão na praça do Congo. Eles não enxergavam o vodu como uma religião, mas iam apenas em busca de favores pessoais.

Certa vez, um pai desesperado procurou por Marie Laveau, pois precisava de um imenso favor. Seu filho iria passar por um julgamento e com os conhecimentos acerca da lei que o pai possuía, ele já sabia que seu filho seria condenado a pena de morte.

O pai pediu a Marie que seu filho fosse inocentado e ela disse que tinha um método para fazê-lo. Entretanto, esse “método” custava muito dinheiro. Mas ele pagou e o rapaz conseguiu sua inocência. Marie recebeu muita grana com a qual comprou uma casa gigante (inclusive, foi nesta casa que Marie faleceu).

A Morte

Em meados de 1860, Marie Laveau parou de realizar seus rituais públicos e passou a ter uma vida um pouco mais discreta, mais reclusa. E mesmo após tantos anos, ela permanecia bela e jovem.

Nesse mesmo período, uma outra sacerdotisa quis tomar seu posto de Rainha do Vodu, mas deu ruim; ela não foi bem aceita e as pessoas continuaram voltadas para Marie.

Além de ajudar as pessoas com sua influência política e seus “poderes sobrenaturais”, Marie exercia um papel fundamental nos movimentos sociais. Sua fama abrangia desde os mais pobres até os mais abastados.

Madame Laveau, morreu pacificamente em sua casa, no dia 15 de junho de 1881. Em sua homenagem, foi realizado uma grande funeral e vieram pessoas de todo canto e classe social, inclusive os membros da elite branca de Louisiana.

Só para exemplificar, a fama que Marie conseguiu — mesmo sendo uma mulher negra, nascida no século 19 e filha de uma escrava liberta — jornais, como o The New York Times, anunciaram seu falecimento a descrevendo como uma “mulher de grande beleza, intelecto e carisma, além de piedosa, caridosa e hábil curandeira de ervas”.

Posteriormente, sua filha tomou seu posto como Rainha Vodu.

Marie Laveau
Marie Laveau no The New York Times

Marie Laveau após a morte

Há relatos de pessoas que avistaram Laveau mesmo após a sua morte. Algumas pessoas especularam que ela poderia ter feito um ritual hudu (outra forma de magia) de troca de corpos, e passado a viver no corpo de sua filha, outros dizem que seu espírito era muito forte e por isso continuava ali.

A presença de Marie Laveau é tão forte, que pessoas de todos os lugares visitam sua sepultura até hoje, para lhe pedir favores. Pra quem tiver o interesse, vou passar a receita:

Vá até o cemitério St. Louis 1, Nova Orleans, Louisiana. Em seu túmulo desenhe um X, rode seu corpo três vezes e faça seu pedido.

Marie Laveau - túmulo
Túmulo de Marie Laveau.
Marie Laveau - túmulo

Mulher negra, empoderada e nada submissa, sem dúvida, o legado de Marie Laveau, ainda hoje tem forte impacto e ela é considerada um ícone cultural.

Marie Laveau foi representada na terceira temporada da série American Horror Story: Coven. Existem músicas dedicadas à ela e até uma linha de perfumes que leva seu nome.

Até a próxima história
Até a próxima história


Blizhost hospedagem de sites
Para comentar você tem que estar logado no facebook. Lembre-se que o comentário é de inteira responsabilidade sua.

Deixe seu Comentário