Os dois se alistaram no Exército norte-americano no ano passado e seguem agora para Mossul, no noroeste do país, onde dizem não haver guerra química, biológica e/ou nuclear (áreas em que se especializaram). “Nosso esquadrão deve cuidar de processamento de prisioneiros e do escorte de comboios”, explicou Fabiano ao G1, por e-mail.
“Preocupação com segurança pessoal, todos temos. Mas as estatísticas não são ruins. Morre muito mais gente em acidente de tráfego em qualquer cidade, do que soldados por tiro ou bomba, como mencionei. Tecnicamente, se você entra no seu carro em Sampa, indo para seu trabalho de manhã, você corre mais risco do que a maioria dos soldados. Óbvio, isso tudo, estatisticamente”, disse Fabiano.
Segundo Ana Paula, o que a levou a tomar esta decisão “do nada” foi “a aventura, querer passar pelo treino e ver de dentro como é a vida no Exército. Tinha uma idéia de que iria pro Iraque, mais cedo ou mais tarde, mas acabou sendo ‘mais cedo'”, disse ela.
“Preferiria ir para o Afeganistão”, disse Fabiano. “No entanto não se escolhe para onde se vai; o Exército diz ‘vá’ e você diz ‘vou’. Ir ao Iraque é, atualmente, uma conseqüência de alistamento no Exército; todos irão, eventualmente.”
Para poderem ir para uma zona de guerra, Fabiano e Ana Paula enfrentaram um treinamento pesado: nove semanas de uma vida dura, isolada. “A parte mais difícil foi ficar sem contato com exterior; não tem televisão, telefone, email etc. Só cartas”, disse Fabiano.
Além da exaustão mental, há os exercícios físicos. “Tantas dietas sensacionais em anúncios de televisão, e ninguém sabe que a melhor forma de perder peso é se alistar. Você acorda às 4h, com sorte, e vai dormir às 22h. Marchas com armadura e capacete (45kg), mochilas (outros 20kg), rifle (4kg), por 15 km. Muitos não passam deste estágio”, explicou.
Há ainda um treinamento especializado. “Treinamos tiro, técnicas de combate, primeiros socorros. O mais importante para mim foram os ‘briefings’ sobre comportamento no Oriente Médio”, completou Ana Paula.
“Não é muito comum ver ‘brasucas’ no serviço, então chamamos alguma atenção”, contou Fabiano. “Nós falamos um português mesclado com inglês (portuglish?) em casa, carregamos nossa bagagem cultural, fomos definidos por termos crescidos no Brasil”, disse ressaltando sua ligação com o país natal, mas sem querer ser rotulado por ter nascido no Brasil.
“Eu acredito em mistura de etnias, e que cultura importa mais que um acidente de nascimento.”
A recepção deles pela nacionalidade, entretanto, costuma ser boa. “Já não existe tanta desinformação quanto antes; sabem que não se fala espanhol no Brasil, e tal. As reações são positivamente amigáveis, quando descobrem que somos brasileiros. Perguntam sobre carnaval e futebol, quando descobrem que sou do Rio. O de sempre.”
Fonte:G1