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A história da maconha no Brasil e no mundo
jun
02
2021
Curiosidades / Por: Camila Naxara ás 0:42

Senta que hoje vou contar a história da maconha no Brasil e no mundo. É bem interessante. Vale a leitura!

Conhecida por suas propriedades medicinais desde a Antiguidade, a maconha tornou-se popular no mundo em virtude de suas fibras, que eram usadas para fabricação de cordas, tecidos muito resistentes, bem como seu efeito recreativo. A própria bíblia em sua primeira versão impressa, foi feita de cannabis.

A história da maconha no Brasil está intimamente ligada a chegada das caravelas portuguesas em 1500. Era da fibra de cânhamo (outro nome da erva) que produzia-se as velas e cordames para as caravelas.

Por falar em cânhamo, você sabia que a palavra maconha é um anagrama dela?


canhamo
Os anagramas são alterações da sequência das letras de uma palavra.

Maaaas, antes de contar a história da maconha no Braseeeel, bóra ver sua história no mundo!

A erva no mundo

Cânhamo, cannabis, bangue, bengue, erva, bagulho, haxixe, pito de pango, pito de angola, riamba, diamba, marijuana – a maconha teve muitos, mas muitos nomes ao longo da História.

Cultivada e muito utilizada em rituais religiosos, recreação e medicamento; do leste ao oeste da estepe asiática, do sul da antiga Mesopotâmia a Índia, no norte da África e posteriormente espalhou-se no mundo todo.

Tabletes de argila encontrados na biblioteca sagrada do Rei Assurbanipal (Mesopotâmia) continham receitas milenares, feitas com a erva. Essas poções compiladas por sacerdotes Sumérios no ano de 2723 a.C., serviam para dores de cabeça, febre e males do cérebro e da mente.

Entretanto, há um registro ainda mais antigo da maconha sendo usada como fármaco, segundo um pergaminho datado de 3000 anos a.C. no Egito, a cannabis sativa era utilizada para dores do parto e remédio para os olhos.

Na China, 2700 anos a.C., a maconha era tão plantada quanto o arroz é hoje em dia, nesta mesma localidade. Tanto é que naquela época, a frase “a terra da amoreira e do cânhamo” era usada como título pelos chineses.

Com cânhamo fabricava-se roupas e papel, além disso, os chineses comiam mingau feito de maconha e também usava-se a erva no embalsamamento das múmias chinesas para que o defunto tivesse uma boa viagem.

Ainda na China, 2 mil anos a.C. o físico chinês Hua Tuo, foi a primeira pessoa a usar a cannabis como anestesia.

Na mitologia hindu, a comida preferida de Shiva (divindade hindu) era a Cannabis. Justamente por isso, até hoje na Índia, toma-se o bang (uma bebida que contem a seiva da maconha) como forma de aproximar-se da divindade. Mas, ela também era utilizada como fármaco, contra dores, espasmos, tétano, epilepsia e para o aumento da libido.


Shivaratri
Shivaratri: Feriado festivo indiano, onde Hindus fumam maconha pelo deus Shiva

Ainda na Índia, a tradição Mahayana fala que Buda passou quarenta dias alimentando-se de apenas uma semente de maconha por dia (e nada mais) para então conseguir alcançar a iluminação.

Apesar de a maioria das vertentes do budismo ter “esquecido’ esta prática, o Tantra (a mistura das crenças hindu e budista) à partir do século VI veio como uma nova filosofia esotérica que usa a maconha como um dos elementos principais de sua religião.

Inclusive existe uma “reza” no Tantra que diz: “Deixa essa cannabis ser a benção pro meu coração”. (chorei)

O Sikhism, religião derivada do Tantra, proíbe todo tipo de droga, menos o bang, chamado por eles de suknee Phan, que significa “doador da paz”.

Gregos e Romanos faziam utilizavam a planta para a fabricação de cordas, tecidos, papel, palitos e óleo.

Na renascença, a maconha se tornou um dos principais produtos agrícolas europeu e era “pouco” usada para fins recreativos. História da maconha

Vale ressaltar que a Inquisição condenou veemente o uso da maconha medicinal, muitas mulheres que usavam a erva para fazer remédio foram queimadas pela igreja católica. O mais irônico é saber que a primeira bíblia impressa do mundo, foi feita de maconha.

No final do século XIX, a maconha se tornou moda entre artistas e escritores franceses. Grandes intelectuais como Victor Hugo, Charles Buadelaire, Honoré de Balzac, Alexandre Dumas e Eugene Delacroix reuniam-se para chapar o coco e pesquisar sobre os efeitos da erva no tratamento de doenças mentais.

Nesse mesmo período a erva também era utilizada para curar dores e dilatar os brônquios.

Como a maconha chegou no Brasil


história da maconha
A maconha é considerada uma planta exótica. Ela foi trazida pelos portugueses e pelos escravos da África

Nas terras tupiniquins, a erva foi introduzida de duas formas: através dos marinheiros portugueses e dos escravos africanos.

Além de basicamente todos os tecidos das caravelas dos colonizadores serem fabricadas à partir da cannabis, os portugueses faziam uso da erva em seus cachimbos d’água, principal técnica usada para fumar a maconha até 1850.

Já em 1560, os escravos trouxeram as sementes da erva escondidas nas barras de seus vestidos e tangas, e as usava em rituais de Candomblé. Vale citar que por muito tempo a história dizia que a cannabis teria sido introduzida no Brasil, única e exclusivamente, através dos negros, mas tal afirmação surgiu como uma forma de preconceito.

Portanto, o Brasil foi o ponto de encontro da cannabis sativa européia e variedades africanas. A chegada cada vez mais numerosa de escravos africanos ajudou na disseminação do hábito de queimar um.

Além disso, os senhores de engenho permitiam o plantio de maconha por parte dos escravos, que era plantada entre as fileiras de cana, nos canaviais pernambucanos.

Durante alguns meses do ano, o plantio de cana era interrompido e nesse período, os senhores de engenho acendiam seus cachimbos para o uso da erva, enquanto os escravos fumavam a planta em bongs feitos de cabaças e taquaras.

No hoje conhecido Polígono da Maconha (no vale São Franscisco), em Pernambuco, os agricultores fumavam a erva antes do trabalho na lavoura, eles eram chamados de maconhistas.

Já no Recife, o povo pobre da cidade se reunia após um longo e duro dia de trabalho para conversar, queimar um e cantar canções sobre a erva.


história da maconha

No Rio de Janeiro foi onde a maconha se difundiu mais rápido. O consumo era tão comum que vários decretos municipais foram emitidos para proibir o comércio e o consumo em público da tal “substância venenosa”.

Entretanto, não pense que o bagulho estava sendo proibido porque fumar fazia mal para a saúde. Na real, a repressão do uso estava totalmente associada a cultura afro.

Para se ter uma ideia, o órgão responsável pelo combate da maconha era a ‘Inspetoria de Entorpecentes, Tóxicos e Mistificação‘, que tentava de todas as formas culpabilizar os negros pela erva. Ou seja, o alvo das autoridades não era a maconha, mas sim o povo marginalizado que faziam uso dela.

Cigarrilhas Grimault

Aaaah, os anos 20!

Imagine você, leitor maconheiro, que nos anos 20 vendia-se baseados industrializados em todo canto. Conhecidos como cigarros índios, a propaganda do dito cujo dizia que ele curava o ronco, flatos e a dificuldade de respirar.


cigarros indios

O preconceito era para com o pobre que fumava habitualmente, no mais, a maconha era bastante tolerada no Brasil. Vale lembrar que nessa época não existiam órgãos nacionais de combate as drogas.

Quando intensificou o preconceito contra a planta

À partir de 1924 o repúdio contra a maconha deu um salto, graças a um, advinhem só… brasileiro! História da maconha

Governantes estavam reunidos na II Conferência Internacional do Ópio, em Genebra, para discutir sobre o ópio (uma substância que é extraída de uma planta que causa efeitos hipnóticos), e nosso compatriota, o delegado Dr. Pernambuco, aproveitou para discursar, afirmando que a maconha matava mais que o ópio (que?).

Vale lembrar que um ano antes, este mesmo brasileiro tinha um discurso totalmente oposto. Ele dizia que a planta não viciava e não causava mortes.

E foi assim que a maconha juntamente com a heroína, passaram a ser vistas como as drogas mais nocivas e perigosas existentes. Sem nenhum estudo de comprovação.

Surge então, a Comissão Nacional Fiscalizadora de Entorpecentes, e através dela espalhou-se uma grande campanha anti maconha e a imprensa nacional abraçou a ideia.

Tempos difíceis para os Clubes de Diambistas (confrarias maconheiras) que reuniam-se nas favelas do Rio de Janeiro e tinham como única forma de renda de sobrevivência. Eles foram denunciados à exaustão por todos os jornais da época.

Ditadura militar

Nos anos 60, período em que países desenvolvidos já discutiam sobre a ineficiência do programa de combate às drogas e defendiam estudos para o uso medicinal, o Brasil caminhou para o lado oposto, com leis ainda mais severas.

O país defendia a proibição de qualquer estudo da cannabis e usuários eram tratados na esfera criminal e perseguidos como bandidos. O sistema prisional superlotou de pessoas, com penas altas, por terem sido pegas fumando um único cigarro.

Entretanto, com a proibição severa do consumo, apreensão constante de drogas e perseguição truculenta policial, o consumo da maconha não diminuiu. Pelo contrário, a proibição estimulou ainda mais o uso por parte da classe média e alta, que passaram a financiar o tráfico.

Os usuários de classe média também foram perseguidos pela polícia e eram discriminados por terem adotado um “hábito de preto e pobre”. Porém, a classe média alta que consumia a cannabis, nunca foi perseguida.

O uso medicinal da maconha

história da maconha

Por muito tempo, convenções internacionais e nacionais proibiam a pesquisa para estudar as drogas ilícitas. Porém, em 2014, cientistas do mundo todo, publicaram um manifesto na revista Scientific American, pedindo a autorização para pesquisarem a maconha, LSD, ecstasy e outros psicoativos. História da maconha

A pressão por parte dos cientistas surtiu efeito e muitos estudos foram realizados desde então. Hoje, sabe-se que a maconha tem muitos benefícios e que seu efeito é diferente das demais drogas.

Quando fumada, o efeitou dura alguns minutos e o uso em excesso, pode causar desorganização mental, distúrbios de memória, falta de atenção e dependência. A dependência ocorre por causa da proibição.

Por se tratar de um produto ilegal, não se tem controle da produção, sendo assim, muitas outras substâncias são adicionadas para aumentar o volume e potencializar o vício.

Apesar dos malefícios do uso descontrolado, estudos também comprovaram que o uso em pequenas doses, faz bem para pacientes com dores crônicas, glaucoma, epilepsia, espasmos musculares, desordens alimentares, ameniza dores de bico de papagaio na coluna, melhora a sociabilização e muitas outras doenças.

Os avanços no Brasil

CNB pelo SUS

Enquanto vários países já legalizaram o mercado da maconha até mesmo para uso recreativo, no Brasil, o debate ainda gira em torno do uso terapêutico, que não deixa de ser um grande avanço.

Discussões sobre a cannabis medicinal nunca esteve tão presente nos âmbitos públicos e privado da sociedade brasileira. Em 2016, o primeiro passo para a regulamentação foi dado e com a autorização da Anvisa, o Brasil passou a liberar a importação de medicamentos à base de cannabidiol (CBD), substância extraída da cannabis.

Tal fato despertou interesse nos empresários brasileiros, que observaram o sucesso dos mercados internacionais e descobriram que o Brasil tem um grande potencial para o mercado.

Entretanto, somente quatro anos depois, outro passo importante foi dado: Em 10 de março de 2020, a Anvisa aprovou e regulamentou a fabricação e a venda de medicamentos à base de cannabis em farmácias brasileiras.

De acordo com um estudo realizado pela New Frontier Data, a projeção é que, em 36 meses, o Brasil arrecadará cerca de R$ 5 bilhões com os fármacos. A história da maconha

A medida não inclui o cultivo da maconha em solo brasileiro, que representa uma grande perda econômica, visto que a planta também tem um enorme potencial para indústria têxtil e alimentícia.

Além de suas fibras que podem ser substituída por algodão na fabricação de roupas de forma mais sustentável, a cannabis também tem alto teor de ácidos graxos essenciais e pode ser utilizada como fonte de proteína vegetal na nutrição humana e animal.

A Legalização no Brasil vai acontecer?

Apesar de tantos benefícios, o Brasil ainda possui um forte estigma contra a cannabis (heranças herdadas do passado) e continua investindo fortemente em políticas de combate a planta.

Na era da ciência, informação e tecnologia, a espera é a de que a postura do Estado mude. Não é dever do Estado tutelar comportamentos da vida privada das pessoas, mas sim oferecer políticas de conscientização do uso descontrolado e dar apoio aos dependentes.

Temos bons resultados que provam ser possível diminuir o consumo de drogas sem o uso da violência e da proibição. Como exemplo, temos o Programa Nacional de Controle do Tabagismo, criado em 2005. Desde então, a quantidade de fumantes no Brasil, vem apresentando uma expressiva queda.

Em 2003, dados da Pesquisa Mundial de Saúde (PMS) apontava que 22,4% da população adulta brasileira era fumante de tabaco. No ano de 2008, com a aplicação de várias políticas de controle ao tabaco, um estudo (Petab) mostrou que este percentual era de 18,5 %. História da maconha

Os dados mais recentes que temos é da Pesquisa Nacional de Saúde (PNS), realizada em 2019, que mostrou que o percentual total de adultos fumantes de tabaco no Brasil é de 12,6 %.

A legalização da maconha é tendência mundial. Canadá, Uruguai, Chile e em vários estados americanos e europeus, o uso e o plantio é liberado.

Em Israel, África do Sul, Geórgia e Luxemburgo o consumo é tolerado com restrições e em 42 países, inclusive o Brasil, a venda de medicamentos já é permitida.


consumo de maconha no mundo

O Brasil precisa aprofundar mais nas discussões, deixar de lado o preconceito e entender que a política de guerra às drogas não combate o uso das mesmas, nem mesmo dificulta o acesso. Pelo contrário, a proibição só fortalece o tráfico.

Somente assim, conseguiremos avançar no assunto e minimizar os problemas de saúde, segurança pública e economia do país.

Viva a ciência!
Viva a ciência!


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